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Caprichoso fala de luta, resistência e pluralidade dos povos da Amazônia

26 de junho de 2022


Na segunda noite de apresentação no 55° Festival Folclórico de Parintins o Boi-Bumbá Caprichoso contou a história dos povos da floresta. Destaque para a negritude, com sua resistência e luta por sobrevivência.


Jonária França

(EQUIPE BN)

Boi Caprichoso e sinhazinha, Valentina Cid: desenvoltura, graça e bailado na evolução

MANAUS (AM) – Batuque e tambor africano, misticismo religioso, morte, batalhas, lutas, conquistas, resistência e sobrevivência dos povos da floresta. Este foi o tom do recado dado na noite deste sábado no Bumbódromo de Parintins, pelo Boi-Bumbá Caprichoso, que em sua segunda noite de apresentação, defendeu o subtema “Amazônia-Aldeia: o brado do povo” e encantou o público presente com muito bailado, alegorias e indumentárias ricas em detalhes.


No enredo da noite, o boi azul e branco contou a história de lutas constantes dos povos e comunidades tradicionais da Amazônia e seus defensores, desde a sua origem até os dias atuais, com críticas políticas às mortes, como a do jornalista inglês Dom Fhillips; do indigenista Pernambucano, Bruno Araújo; e do ambientalista acreano, Chico Mendes.


O Caprichoso, que teve uma galera animada do começo ao fim da apresentação, também referenciou a luta de mulheres guerreiras como Tuíra Kayapó, que ficou conhecida mundialmente durante o I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, em Altamira (PA), em fevereiro de 1989. Durante a discussão sobre a construção da hidrelétrica de Kararô, hoje chamada de Belo Monte, Tuíra Kayapó encostou um facão no rosto do presidente da Eletronorte (à época), engenheiro José Antônio Muniz Lopes, exaltando o grito Kayapó de luta – “Tenotã-mõ”. O ato de Tuíra virou referência para todos que defendem a Amazônia.


Figura típica

Na apresentação deste sábado o boi azul e branco também levou para a arena, concorrendo ao item 15 – Figura Típica Regional – o “Caboclo da Mata”, que mostrou como o homem da floresta aprendeu a cuidar da floresta com os seus antepassados, vindos de países africanos, asiáticos e europeus. E mostrou, com a construção da Ferrovia Madeira-Mamoré, nos anos de 1907 a 1912, a destruição e as mortes dos povos da floresta, com a construção dos trilhos da Maria Fumaça ou Mad Maria.


Na representação da Lenda Amazônica (item 17), chamada de “Os trilhos da morte”, um dos momentos que deixou o público encantado e, claro, pensativo com o que essa construção provocou à Amazônia, foi quando a rainha do folclore, Cleise Simas, chega trazida pelo trem Maria Fumaça; desce do trem e caminha sob os trilhos, representados pelos dançarinos que interpretavam pessoas mortas, em alusão às perdas que o desenvolvimento provocou aos povos e à floresta entre Acre e Rondônia, na época.


Unificação de povos

O Caprichoso também representou a unificação do povo Wayana-Apalai, habitantes da fronteira entre o Brasil e o Suriname, com a apresentação do ritual indígena, que concorre ao item 4. Os Wayana e os Apalai são povos de língua karib que habitam a região de fronteira entre o Brasil (Rio Parú de Leste, Pará), o Suriname (rios Tapanahoni e Paloemeu) e a Guiana Francesa (alto Rio Maroni e seus afluentes Tampok e Marouini).

Ritual indígena do boi azul e branco colou na arana o trem Maria Fumaça

Durante o ritual, do alto da arena surgiu o pajé Erick Beltrão, em uma alegoria de uma figura mítica voadora. No chão, a indumentária se transformava em camaleão bem no meio da arena. O ápice de sua participação foi quando ele representou a levitação de corpos indígenas, com bailarinos suspensos pro guindastes.


O Caprichoso finalizou a apresentação de forma tranquila, com os brincantes deixando a arena brincando o dois pra lá e dois pra cá ao som da toada “Caprichoso fala de luta, resistência e pluralidade dos povos da Amazônia.

Filha de Chico Mendes, Angela Mendes, carregando a bandeira com imagens de grandes defensores da Amazônia, mortos pela luta em favor da floresta

Na segunda noite de apresentação no 55° Festival Folclórico de Parintins o Boi-Bumbá Caprichoso contou a história dos povos da floresta. Destaque para a negritude, com sua resistência e luta por sobrevivência



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