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Garantido inova com a presença de cacicas

25 de junho de 2022


O boi da Baixa de São José apresentou um espetáculo que exaltou e saiu em defesa dos índios e caboclos na primeira noite de apresentação


Nely Pedroso

Equipe BN

As tuxauas, pela primeira vez na defesa do item na arena, mostraram a representatividade da mulher indígena Foto:Junio Matos

O Boi Bumbá Garantido surpreendeu, na abertura do 55º Festival Folclórico de Parintins. O boi vermelho foi a primeira apresentação da noite de sexta-feira (24), na arena do Bumbódromo e, de forma inédita, apresentou mulheres concorrendo ao item 14, alusivo aos Tuxauas da tribo. “Pela primeira vez o boi traz para a arena o empoderamento feminino”, destacou o apresentador do bumbá, Israel Paulain.


Na apresentação as destaques Carol Soares, Leilane da Silva e Grace Soares sagraram-se as primeiras tuxauas do bumbá, cada uma carregando capacetes pesados que são item de avaliação dos jurados. Duas das tuxauas são fisioculturistas e Grace Soares é jornalista.


O bumbá, que este ano tem como tema “Amazônia do Povo Vermelho”, ontem (24) apresentou o subtema “O Povo Vermelho como Brasa”, uma exaltação e defesa dos povos que habitam na Amazônia, ressaltando o matriarcado nas tribos indígenas e demonstrando a força das mulheres na aldeia.


Ao abrir as apresentações do Festival Folclórico de Parintins 2022 o boi bumbá Garantido foi explosão de sentimentos do início ao fim, pois representou nos primeiros batuques a volta da maior festa popular do planeta, que por dois anos estiveram silenciadas em decorrência da pandemia - fatal para muitos integrantes das agremiações tanto vermelha quanto azul.


Abertura- O bumbá abriu a noite com o amo do Boi, João Paulo Farias, no meio da galera vermelha e branca, saudando o público com seus versos irreverentes enquanto a Batucada entrava em silêncio e o apresentador Israel Paulain, emocionado, descia de uma estrutura de ferro em for

Galera do Garantido participou ativamente do espetáculo no primeiro dia do festival

mato de coração, içado por um guindaste, ao som de violino e cantando a toada Flor de Tucumã.


A contagem com a galera feita pelo batuqueiro, que é neto de Lindolfo Monteverde, criador do Garantido, mexeu com a galera vermelha e branca que lotava a arena do Bumbódromo e deu o tom do começo do espetáculo que teve como levantador principal David Assayag.


Tribos e ritual- A noite de apresentação do bumbá estava apenas começando e o espetáculo impactou com as tribos indígenas coreografadas, seguida da apresentação da porta estandarte Daniela Tapajós. Era o ‘Brasil Pátria Indígena do Povo Vermelho’ denunciando tudo que afeta esses povos originários da Amazônia.


Outro destaque do boi foi o ritual “Karõ, Krahô” no qual o pajé Adriano Paquetá surge para ressuscitar um guerreiro que não estava pronto para morrer, travando uma luta espiritual que o trouxe de volta a vida, resultando na celebração do ‘Povo Vermelho como Brasa’. Representando o Sol Karõ Krahô, o pajé Paketá faz sua performance na arena em busca da nota máxima no item 12, ritual indígena.


Homenagem cabocla- Ainda dentro da temática indígena, um espetáculo que chamou atenção foi a cerimônia de iniciação da cunhã tikuna, denominada de “arranca cabelos”, encenada pela cunhã-poranga Isabelle Nogueira, numa performance que recebeu aplausos entusiasmados da galera.


Na passagem do tema indígena o caboclo da Amazônia, Lindolfo Monteverde, recebeu homenagens com a figura típica regional “O Pescador”, numa reverência ao criador do Boi Vermelho e Branco.


Outro momento de exaltação foi a chegada do Boi Garantido, animado pelo tripa Denildo Piçanã, fazendo sua performance e demonstrando que o boi gosta de comer sal e capim. Estreante do festival, a sinhazinha da Fazenda, Valentina Coimbra, já o aguardava para brincar de Boi. Trajando uma indumentária que retratava um grande aquário amazônico; simbolizando o encanto das flores, a Sinhazinha fez uma transmutação em plena arena para bailar com o seu brinquedo de São João, o Boi Garantido.

O Boi Garantido, a sinhazinha da Fazenda Valentina Coimbra e o amo do Boi, João Paulo Farias em ação durante suas apresentações

Para também fazer parte dessa grande festa folclórica que o Boi apresentava, chega na arena,


Outro momento apoteótico foi a chegada da rainha do Folclore, Edilene Tavares, com indumentária que simbolizou a fidelidade do amor das araras vermelhas. Ela veio conduzida por uma alegoria de arara e sua evolução, com variação de movimentos de uma guerreira indígena, antecede a entrada da Vaqueirada, que fez uma performance coreografada, numa espécie de balé aquático, formando duas cobras que se separam, já preparando o ‘terreno’ para a Lenda Amazônica, apresentação de encerramento do boi.


O amo do Boi tirou versos e fez provocação a torcida contrária, como se comandando as duas galeras. “Quem não é tetra nem penta/pode ficar sentadinho, quem perdeu o centenário, pode ficar sentadinho...”, dizia em forma de verso.


Sem esquecer que num gesto de profundo respeito a cultura do nosso estado, o poeta amazonense Thiago de Mello, falecido em janeiro deste ano, também foi homenageado nos versos do amo, que naquele momento trocou a indumentária por uma camisa que estampava a foto do autor do Estatuto do Homem.

David Assayag, no reencontro com a galera do Boi Garantido na arena

Ritual - A noite fechou com a lenda amazônica da cobra grande, ‘Quando Honorato Lutou com Caninana’. A lenda contou a história de duas cobras que foram abandonadas pela mãe. Honorato é boa e Caninana má, então chega o dia do duelo inevitável entre as duas. Nessa luta, Honorato mata Caninana, que desencanta e se transforma numa linda mulher, representada pela cunha-poranga do Boi, Isabelle Nogueira. A encenação teve a participação dos levantadores de toadas, Sebastião Júnior e Márcia Siqueira, cantando a toada ‘Quando Honorato lutou com a Caninana’.

Tribos indígenas deram show na primeira noite de apresentação do Garantido


Fotos: Michel Melo/Secretaria de Cultura e Economia Criativa

Legendas:

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