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Jovens amazonenses criam teclado virtual para línguas indígenas

24 de agosto de 2022


O aplicativo, denominado de Linklado, mantém a preservação da língua e da escrita dos povos originários. Foi lançado oficialmente no dia 11 de agosto, em Manaus, e pode ser baixado em qualquer aparelho com sistema operacional Android


Dora Paula e Mayane Batista

Equipe BN

Lançado oficialmente no dia 11 de agosto, em Manaus, o aplicativo chegou a grupos da Venezuela, Colômbia, Paraguai e Guiana

(Manaus-AM) – Para incentivar a escrita indígena, com foco na preservação linguística e inclusão social, o estudante do ensino médio Juliano Portela, de 17 anos, e seu amigo Samuel Minev Benzecry, de 18 anos, criaram um teclado virtual que possibilita a comunicação em caracteres indígenas. O aplicativo permite que aparelhos eletrônicos passem a traduzir de forma rápida, gratuita e segura a escrita dos povos originários.

 

Mesmo sem serem percebidas, as línguas indígenas dividem espaço com a língua portuguesa no Brasil. No Amazonas, nas regiões do Alto e Médio Rio Negro se concentra o maior número de etnias, com mais de 20 línguas faladas. Nessa mesma região, conhecida como Cabeça do Cachorro, localizada ao noroeste do estado, 90% da população domina mais de uma língua e São Gabriel da Cachoeira (a 852 quilômetros de Manaus) é o único município quadrilíngue do país. Além da língua portuguesa, lá também foram reconhecidas como oficiais o nheengatu, tukano e baniwa.

 

Juliano revela que o contato com a língua indígena despertou ainda mais o interesse dele pela linguística, principalmente dos povos da região. “Eu nunca havia tido contato com a língua nativa do Brasil. A criação do App me ajudou a observar como é a realidade dos povos indígenas e eu levarei isso adiante”, revela o estudante de 17 anos que se comunica em oito idiomas internacionais.


De acordo com a pesquisadora Noemia Ishikawa, do Instituto de Pesquisa da Amazônia (Inpa), o teclado ocidental, a que temos acesso, não permite a grafia correta dos símbolos utilizados na escrita das línguas indígenas. Há 14 anos a bióloga buscava soluções para tornar o conhecimento científico mais acessível às comunidades originários da região. Ela compartilhou o desafio com os jovens e não acreditou que seria possível.

 

Anos antes a pesquisadora já havia buscado ajuda no exterior. “Conversei com universidades referência no Japão e no Estados Unidos para ver a possibilidade de criar um teclado compatível com os símbolos da língua indígenas, mas pareceu algo complexo para eles. A solução estava aqui pertinho e eu ainda não sabia”, revela.

Equipe no lançamento do teclado digital com símbolos indígenas para celulares e notebooks criado pelos estudantes Juliano Portela e Samuel Minev Benzecry

Durante os quatros meses em que o Aplicativo permaneceu em fase de teste, indígenas de várias etnias da região foram fazendo o compartilhamento da ferramenta que chegou, inclusive, a grupos da Venezuela, Colômbia, Paraguai e Guiana. No Brasil já existem professores universitários e indígenas graduados que traduziram suas teses de mestrados e dourados nas línguas originárias.

 

De acordo com Samuel, ao iniciarem o projeto eles não tinham ideia de quantas pessoas seriam beneficiadas. “Ver esse projeto dando resultado é fantástico. Acredito que isso é um passo significativo para a preservação da identidade dos povos originários e muito me alegra ter contribuído para que o idioma deles permaneça vivo para as novas gerações, pois acredito que quando morre uma língua junto com ela morre uma parte da humanidade”.

 

Como Funciona- O ‘Linklado’ tem função de um teclado digital com caracteres e símbolos indígenas para aparelhos celulares e notebook, dando suporte a escrita de várias línguas de diversas etnias.

 

Necessárias para escrever os caracteres utilizado nas línguas indígenas. O principal impacto do App é fortalecer a preservação das línguas indígenas em tempos de comunicação virtual e incentivar o uso cotidiano e acadêmico do idioma.

 

O App pode ser baixado na loja de aplicativos de aparelhos com sistemas Android. Utiliza software desenvolvido para funcionar em várias plataformas.

 

Impacto social - A linguística e antropóloga Ana Clara Bruno explica que a língua indígena tem outra forma escrita representada nas simbologias das pinturas corporais. E com esse processo de alfabetização introduzido nas escolas surge a necessidade de ter a escrita representada além do português.

 

“Os indígenas perceberam que poderiam também escrever em suas línguas, só que muitas dessas línguas têm sons diferentes do português e do inglês e precisam de representação gráfica específica. Então uma das dificuldades que a gente tem na hora de publicação de material é ter fontes e símbolos que possam representar esses sons. Não é que não existisse nada similar antes do Linklado, o problema que era difícil a configuração. O que os meninos fizeram foi facilitar com o teclado digital para que qualquer pessoa falante das línguas indígenas pudesse transcrever e escrever em aparelhos eletrônicos sem dificuldades”, explicou a linguista.

Ana Clara Bruno, linguista e antropóloga

 

Para a indígena Marinete Almeida, do povo Tukano, o Linklado é precioso dentro das comunidades indígenas por manter a identidade de vários povos. “Nós tínhamos muita dificuldade em transcrever do português para nossa própria língua. Agora o App resolveu o nosso problema e alcançou também a necessidade de outros povos originários, finaliza.


Marinete Almeida, indígena do povo Tukano

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